domingo, 19 de setembro de 2010

A “Sociedade do Espetáculo” de Guy Debord


Creio que Guy Debord possuía algumas idéias equivocadas, no entando ele não estava completamente errado.
Creio que antes de qualquer coisa, cada um tem o direito de ter a visão que bem entender sobre qualquer assunto, assim como é um direito do autor ter tal visão, mas mais uma vez me atrevo a dizer que o modo como ele expõe os fatos me parece um tanto quanto leviana, digo leviana não por ser algo inconsciente, que ele tenha dito da boca para fora, mas digo no sentido de ser imprudente, onde ele ressalta e ignora os valores e ações que o convém, deixando de lado certos pontos fundamentais a meu ver. Tais pontos como o fato de que nada é eterno, assim como tal condição não seja uma exceção a regra. Tudo pode ser mudado a qualquer momento, deixando de ser algo tão regrado e obrigatoriamente seguido a risca por uma sociedade que à seus olhos parecem ser órfãos de senso de escolha e de opinião própria.
Devemos pensar que o tal espetáculo quando o vemos como sendo a propaganda mão possui apenas pontos negativos como ele afirma, mas também é algo fundamental para uma boa economia tendo em vista que quando um produto é fabricado e vendido não esta apenas alimentando a sede de dinheiro de certas partes de um mundo globalizado, mas também está alimentando milhares de famílias que sobrevivem com o trabalho na indústria, em lojas e em outras tantas formas que eu poderia citar.
É a velha lei de compra e venda, se trata de um ciclo onde faz girar também a economia de um país, de uma nação pela qual se encontraria em calamidade caso não existisse pontos em que a população se valeria de recursos para sua sobrevivência.
Debord não deu solução nenhuma para tal ponto que ele defende, pelo menos, eu, não consegui identificar nenhuma solução, tanto com a leitura do livro quanto o filme. Digo ainda que os tempos mudaram, as idéias e visões sobre certos assuntos mudaram, e muitos deles, foram revistos e reavaliados. E essa visão, deveria também.
Porém, depois de participar da discussão sobre o assunto durante as aulas, percebi que algumas coisas que até então, eu não aceitava, estavam certas e quem estava equivocada era eu.
A mídia sempre influenciou as pessoas, sempre foi assim e sempre será, queira ou não.
As pessoas compram coisas mesmo sem necessitar, esse é o papel da mídia, fazer com quem mesmo sem perceber, ela compre.
Isto se mostrou claro em uma matéria da revista veja de 2 de novembro de 2005. A matéria trazia o seguinte título “ Hipnotizados pela propaganda, americanos pedem aos médicos cada vez mais drogas de que não necessitam”
Durante toda a matéria se torna nítida a influencia que a propaganda causa na vida das pessoas, até em tão, quando escutam falar em “influencia/mídia” imaginam que é em bens matérias como roupas de marca, carros, jóias e tudo mais. No entanto, é mais serio do que imaginamos, ou queremos ver. Veja agora alguns trechos da reportagem e tome suas próprias conclusões.

“ (...) A legião de americanos que vai aos consultórios, como zumbis em busca de remédios que desconhecem totalmente, está cada vez maior.”

“(...) Um texto escrito por Kathleen Slattery- Side effects efeitos colaterais)- virou filme independente e estréia nos EUA na sexta-feira4. Ela fala com conhecimento de causa, pois usava os truques de marketing da indústria, como levar médicos a jantares para convence-los a prescrever um medicamento.
Na verdade, o Tio Sam não está moribundo nem é hipocondríaco por natureza. Os motivos de seu apego exagerado aos remédios tem outras raízes. A principal é a brutal estratégia de marketing do segmento farmacêutico posta em prática a partir de 1991. Naquele ano, o setor gastou U$$55 milhões em propaganda.
Como um flautista de Hamelin- da fábula na qual as crianças são atraídas à morte no rio seguindo o som do instrumento- comerciais de rádio e de tevê estão hipnotizando a população. “Eles vendem um estilo de vida.è como um anúncio de carro esporte”, diz Critser.”


O Relatório:

À primeira vista
Em um primeiro momento, analisando superficialmente o filme, e até mesmo o livro, nos deparamos com a desconfortável sensação de estarmos de frente a um grande e complicado quebra-cabeça, no qual, no menor descuido podemos perder o “rumo” e destruir todas as peças que já estavam montadas. Digo isto, não só pelo conteúdo que é exposto na obra em si (estando se referindo ao livro), mas também por alguns outros fatores dos quais fogem o domínio e responsabilidade do autor. Estando me referindo ao filme, como, por exemplo, o fato do filme ser legendado e sua elocução de origem francesa.
Todos esses fatores com uma pitada venenosa de complexidade de que tal tema possui, nos deixa desorientadamente perdidos caso não empregamos a atenção necessária a fim de conseguir a façanha de juntar peça por peça, dando sentido ao contexto sem que não nos percamos pelo meio do caminho por distrações que queira sim, queira não, existem.

Um segundo olhar
A seguir, fazendo algumas referencias a citações do livro, contudo, sem esquecer de fatos transmitidos pelo filme me permito destacar alguns dos pontos que me chamaram atenção.

No trecho encontrado na página 12 encontramos a seguinte afirmação:
“A contradição essencial da dominação espetacular em crise é ter falhado no ponto em que era mais forte, nalgumas vulgares satisfações materiais, que excluíam na verdade outras satisfações, mas que eram supostas bastar para obter a adesão contínua das massas de produtores-consumidores.”

Devo dizer que discordo quando ele se refere à falha como sendo uma contradição “essencial da dominação” no entanto com a existência da falha no que era de maior força e me atrevo até dizer domínio, houve um abalo no qual todos os meios foram afetados, deixando de lado alguns pontos que poderiam ser de relativa importância e focando apenas em algumas satisfações que de primeiro momento pareciam bastar para a aceitação.
O espetáculo em si ou por que não, a sociedade em que ele se encontrava passava por mudanças, abalos. A dominação espetacular, assim dizendo estava sem um ponto de referencia, onde ela se encontrava fora do controle, e o resultado não poderia ser outro que não o termino da satisfação material.

Creio que é nítido o desconforto e até mesmo revolta do autor quando ele se refere ao que o espetáculo transformou a sociedade ou no que a sociedade transformou o espetáculo. Digo “o espetáculo transformou a sociedade” muniam do poder de coagir e impor o que os eram conveniente a toda a sociedade, deixando de lado seu papel de origem. Porém, quando digo “a sociedade mudou o transformou o espetáculo” me refiro a que por de trás de ações apresentadas no espetáculo estavam, mentes, pessoas, que através do espetáculo conseguiam se impor a grande massa.
Reforço-me desta opinião com base no trecho da pagina 14 em que ele diz “Cada um é filho das suas obras; e, do mesmo modo, a passividade faz a cama em que se deita. O maior resultado da decomposição catastrófica da sociedade de classes é que, pela primeira vez na história, o velho problema de saber se os homens, na sua massa, amam realmente a liberdade, encontra-se ultrapassado: pois agora eles vão ser constrangidos a amá-la. “

No trecho 7 ele diz “A linguagem do espetáculo é constituído por signos da produção reinante, que são ao mesmo tempo a finalidade última desta produção”
Creio que signos de produção reinante sejam as características que a parte “dominante” assim dizendo possui e desejam transmitir onde a finalidade é produzir mais e mais adeptos a tais características. O espetáculo até que poderia como pode até hoje ter tal poder, mas, nesse ponto me deparo com a seguinte questão “e onde fica o livre arbítrio?”.
Não estou dizendo que isso não aconteça, hoje em dia temos vários meios que podem e sabemos que utilizam destes para tais finalidades, entrando, me parece que o autor subestima a capacidade de escolha das pessoas. Digo isso em relação de quando ele faz tão afirmação, só faz valer o pensamento da “produção reinante” ou dos que estão por de trás delas, e esquece de que a grande massa pode ou não aceitar tais signos.

Um pouco mais adianta, no trecho 13 ele diz “O caráter fundamentalmente tautológico do espetáculo decorre do simples fato de os seus meios serem ao mesmo tempo a sua finalidade. Ele é o sol que não tem poente, no império da passividade moderna.“
Devo discordar quando ele a começar pela sua posição de definir o caráter do espetáculo como algo fundamentalmente tautológico, não consigo distinguir tautologia alguma em relação aos meios serem sua finalidade. Tendo em vista um trecho já mencionado a cima, volto ao mesmo quando ele diz “o velho problema de saber se os homens, na sua massa, amam realmente a liberdade, encontra-se ultrapassado: pois agora eles vão ser constrangidos a amá-la.”

Se os meios serem ao mesmo tempo sua finalidade, creio eu que ele valeria disso como uma ação, e nesse caso, a ação de impor o que deseja a grande massa. Contudo, a partir do momento que ele diz que vão ser constrangidos a amá-la esse fato se perde tendo em vista que por mais que algo é imposto a alguém, ou mais ainda, a grande massa nunca existe uma adesão de 100% . Subestimando um todo quando se refere a ser um império de passividade moderna. O modo como ele transmite sua visão de como são as coisas, me parece um tanto quanto prematuro ou até mesmo equivocado uma vez que ele deixa claro sua postura de tais fatos são verdadeiros, sempre existiram e sempre iram existir. Deixando de lado, outros fatores, como o de que a sociedade muda, os tempos mudam, os ideais mudam e com eles todo um contexto e idéia do que ser uma imposição ou não.

No trecho 21 ele diz “À medida que a necessidade se encontra socialmente sonhada, o sonho torna-se necessário. O espetáculo é o mau sonho da sociedade moderna acorrentada, que finalmente não exprime senão o seu desejo de dormir. O espetáculo é o guardião deste sono.”

Não creio que o espetáculo seja o mau sonho da sociedade moderna, pois existem sonhos E sonhos, e acho um tanto leviano a generalização de tal afirmação. O espetáculo pode ser um ponto de fuga e não algo de tamanha opressão, tendo em vista que se fosse tão ruim quando mostra, não teria publico, logo, não teria motivos para existir.

Já no trecho 158 e afirma “O espetáculo, como organização social presente da
paralisia da história e da memória, do abandono da história que se erige sobre a base do tempo histórico, é a falsa consciência do tempo.”
Mais uma vez, discordo de tal ponto de vista quando o autor diz que o espetáculo como organização social e que se constrói com base na história seja uma falsa idéia de tempo.
E o pior ainda, não consigo ver o que o leva a chegar em tais conclusões. Como o espetáculo pode paralisar a história? Acho que o espetáculo em si não possui apenas, uma função, um meio e um ideal. E dizer tal afirmação com tanta convicção e tal certeza de que é algo inerte e que sempre será do mesmo modo para sempre assim como na época em que ele vivia.

Ou seja
Como na introdução, volto afirmar que se trata de um tema complexo, porém, com atenção se torna mais fácil de ser entendido quando se tem como base não só o filme, mas os textos do livro onde o autor deixa transparecer a meu ver ainda mais seu ponto de vista.
Assumo que concordo com a visão de Guy Debord quando ele expressa a idéia de que entre tantas características que a sociedade possui, uma das principais é a imagem da realidade manipulada pelas mídias, ou como ele mesmo diz, pelo espetáculo, de tal modo a transformar a vida em um espetáculo propriamente dito, onde é mostrada uma falsa realidade através da representação dos valores do capitalismo.
No entanto, discordo categoricamente com ele e com seu modo de julgar tal tema, creio que não existe apenas uma verdade, assim como existe exceções e nada é tão imutável como são suas afirmações.
Ele não diz o que possa vir a acontecer para mudar tal situação que ele mostra, assim como afirma que é algo que sempre irá existir.
Saliento ainda, a frieza com que ele transmite suas idéias, como se não fizesse parte do mesmo mundo em que está falando, ele passa a sensação, pelo menos, a que me passou, de que ele está acima de tudo e qualquer situação existente em seu cotidiano, onde ele demonstra apenas o que está acontecendo “ lá fora”.
Incessantemente ele bate na mesma tecla, a de que nada pode ser feito para que haja uma mudança, apenas devemos aceitar essa condição, pois a seu modo, sempre será assim. Esquecendo de que no lugar de apenas, se conformar-se temos a opção de mudar e não parar no tempo tendo em vista fatos existentes em outros tempos e que a história, ao contrario do que ele afirma, pode sim sofrer mudanças.
Finalizando minha visão sobre o assunto, creio que devo novamente, discordar do autor quando ele afirma no trecho 39 “este desenvolvimento que exclui o qualitativo está ele próprio submetido, enquanto desenvolvimento, à passagem qualitativa: o espetáculo significa que ele transpôs o limiar da sua própria abundância; isto ainda não é verdadeiro localmente senão em alguns pontos, mas é já verdadeiro à escala universal, que é a referência original da mercadoria, referência que o seu movimento prático confirmou, ao reunir a terra como mercado mundial. “
Uma vez que seja verdade a substituição de produção em larga escala, chamamos aqui de produtos industrializados, ao afirmar que o desenvolvimento exclui o qualitativo para se tornar qualitativo. Analisemos então o termo a fundo de qualidade e quantidade. Se não existir o mínimo de qualidade possível, nem toda quantidade do mundo sendo produzida teria sentido, uma vez que não teria mercado.
Caímos no ponto em que o “espetáculo” como ele preferia chamar, passou-me a sensação de que ele não acreditava em nada, além de que tudo era um grande monte de mentiras, futilidades e perca de tempo onde a sociedade estava cada vez mais e mais presa a esse emaranhado de tramóias apenas para que o espetáculo alcançasse seu objetivo final. Digo isso com base no trecho 162 quando ele diz “sob os modos aparentes que se anulam e se recompõem a superfície fútil do tempo pseudocíclico contemplado, o grande estilo da época está sempre no que é orientado pela necessidade evidente e secreta da revolução.”